Em seres humano o principal produto final do metabolismo das purinas é o ácido úrico que tem o nível rigorosamente controlado pelo equilíbrio entre a produção e excreção.O ácido úrico em concentrações plasmáticas usuais exerce efeito neuroprotetor, agindo como um destruidor de radicais livres; mas diversos estudos indicam que altos níveis de ácido úrico está relacionadoe ao risco de doenças cardiovasculares. Além disso, altos níveis de ácido úrico também estão relacionados com resistência insulínica (RI), diabetes mellitus 2 (DMT2) e síndrome metabólica (SM).
Dentre estas alterações cardiometabólicas, a SM representa vários fatores de risco, que consiste em alterações do metabolismo dos glicídios – hiperinsulinemia, resistência à insulina, intolerância à glicose ou diabetes mellitus tipo 2 (DM2); alterações do metabolismo dos lipídeos – aumento de triglicerídeos e/ou diminuição de colesterol ligado à lipoproteína de densidade alta (HDL-colesterol); obesidade abdominal; aumento da pressão arterial.No fígado a síndrome metabólica se expressa como doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA), que se caracteriza pela deposição de gordura nos hepatócitos de indivíduos com pouca ou nenhuma ingestão de álcool. Em estudo realizado com 102 adultos com diagnóstico de diabetes, concluiu-se que quase metade dos pacientes apresentou DHGNA, os quais tiveram IMC e ácido úrico mais elevados do que os indivíduos sem DHGNA.
A associação dos níveis de ácido úrico com a SM está relacionado ao fato de a captação de glicose no músculo esquelético depende, em parte, do aumento no fluxo sanguíneo mediado pela insulina, o que estimula a liberação de óxido nítrico a partir de células endoteliais. Componentes da síndrome metabólica se desenvolveram em camundongos com síntese de óxido nítrico endotelial em experimento.O ácido úrico também induz alterações inflamatórias e oxidativas nos adipócitos, devido a xantina oxidoredutase ( enzima que gera o ácido úrico a partir da xantina) ser expressa nos adipócitos e ser fundamental para o processo de adipogênese.
Foi realizado um estudo na Itália com o objetivo de verificar a associação da hiperuricemia com a síndrome metabólica e aterosclerose em crianças e adolescentes obesos, concluíram que pacientes com elevadas concentrações de ácido úrico tiveram incidência maior da aterosclerose carotídea avaliada através do espessamento do complexo médio-intimal da carótida pela ultrassonografia com dopler nesta região. O que explica biologicamente tal fato, tomando como apoio as pesquisas feitas em modelo animal com ratos, em que, após a indução de hiperuricemia, houve desenvolvimento de hipertensão arterial por provável redução do óxido nítrico na mácula densa renal e por estímulo direto do sistema renina-angiotensina, sendo esses mecanismos os causadores de vasoconstrição e, portanto, de elevação da pressão arterial.
Com variáveis do metabolismo lipídico,é demonstrada associação entre os níveis de ácido úrico e as médias de TG e HDL, sendo inversa com a última. A hiperglicemia nesta faixa etária é incomum, já que a manifestação de metabolismo glicídico mais frequente é a resistência insulínica, sendo esta um mecanismo compensatório, enquanto a tolerância à glicose permanece normal.
Alguns estudos recentes têm descrito uma relação entre os níveis elevados de ácido úrico e a DHGNA, sendo um fator de risco independente para a doença hepática. A teoria “2-hit” seria a melhor explicação para esta associação, que tem sido inferida a partir da compreensão atual da progressão da DHGNA. Segundo esta teoria, o acúmulo de gordura no fígado é o “hit” em primeiro lugar, que deixa os hepatócitos mais suscetíveis a danos maiores devido a disparadores, tais como resistência à insulina, inflamação em excesso, consumo de álcool e obesidade. A resistência à insulina desempenha um papel central no círculo vicioso desse processo, que promove lipólise do tecido adiposo periférico e aumenta livre influxo de ácidos graxos para o fígado. Esta resistência à insulina leva à hiperinsulinemia, que aumenta a síntese de ácido úrico e reduz a excreção renal do mesmo.
No “hit”, o estresse oxidativo promove a peroxidação lipídica e uma resposta inflamatória. O ácido úrico reflete a taxa de renovação celular, o que pode ser uma parte do processo inflamatório, tornando-o um fator pró-inflamatório. O ácido úrico aumenta a interleucina (IL)-6 e o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α). Desta forma, os níveis sanguíneos de ácido úrico elevados devem-se ao estresse oxidativo que ocorre em resposta a distúrbios metabólicos.
Referêcias:
Post por: Danyelly Lara Martins